Pesquisa mostra que a saúde mental dos jovens melhora com mais sono, organização e tempo na natureza.
Uma rotina diária, sono adequado e tempo limitado de uso tela foram associados a uma melhor saúde mental dos jovens durante os primeiros meses da pandemia da Covid-19, de acordo com um novo estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Harvard e da Universidade de Washington.
O estudo pesquisou mais de 200 crianças e adolescentes desde o início da pandemia, durante a fase inicial de lockdown em 2020, e seis meses depois, quando as escolas da região de Seatle operavam remotamente.
A disseminação da Covid-19, dificuldades econômicas e isolamento social, especialmente durante os primeiros meses da pandemia, fomentou estresse, ansiedade e depressão entre crianças e adolescentes, concluiu o estudo. Agora, mesmo com a expectativa de que as aulas presenciais sejam retomadas, as descobertas do estudo destacam os fatores estressantes da vida pandêmica, dentro ou fora de um ambiente de aprendizagem remoto.
Os principais fatores de estresse para os jovens foram:
- a exposição à cobertura aparentemente assustadora da mídia sobre o coronavírus;
- o uso extensivo e passivo de telas - seja em telefones, TVs ou computadores; e
- rotinas e padrões de sono interrompidos.
Os pesquisadores descobriram que para tornar mais brando o momento de estresse, as melhores estratégias eram:
- estabelecer rotinas estruturadas para a vida diária, incluindo sono;
- limitar o consumo de notícias e o tempo de tela passivo; e
- simplesmente sair para passear na natureza.
O maior aprendizado que espera-se que os pais tirem do estudo é que, embora a saúde mental dos jovens tenha sido afetada negativamente pela pandemia, existem alguns passos simples que as famílias podem tomar e que podem ter um impacto positivo.
O estudo envolveu dois grupos de crianças de 7 a 10 anos na área de Seattle e adolescentes de 13 a 15 anos, que já participavam de pesquisas sobre saúde mental e comportamento de jovens antes da pandemia. A pesquisa, que ainda está em andamento, começou a analisar as famílias quando as crianças tinham 3 anos e forneceu à equipe uma linha de base para avaliar os efeitos das diferentes fases da pandemia. Cerca de metade dos participantes eram mulheres e cerca de um terço eram jovens de cor.
Para este estudo, jovens e seus pais foram entrevistados por meio de questionários baseados na web, respondendo a perguntas que os pesquisadores desenvolveram especificamente para a pandemia - um evento único que carregava seus próprios estressores. Por exemplo, os pesquisadores perguntaram sobre questões relacionadas ao ambiente físico do jovem, encargos sobre a saúde e finanças da família e tensões sociais e acadêmicas. As respostas também ajudaram os pesquisadores a descobrir se e como os jovens estavam internalizando o estresse - desenvolvendo ansiedade ou depressão - ou externalizando-o, o que se manifestaria em mudanças de comportamento.
A pandemia da Covid-19 apresentou algumas experiências únicas para os jovens e suas famílias.
Pesquisas sobre desastres anteriores, como o furacão Katrina, e também do estudo de coisas estressantes que acontecem para as famílias, como o divórcio, destacaram os fatores que contribuem para a saúde mental dos jovens nesses contextos. Por exemplo, moradias instáveis e situações econômicas, eventos de vida estressantes, aumento no conflito familiar ou em problemas de saúde mental dos pais contribuem para as respostas das crianças ao grande estresse. Isso também aconteceu durante a pandemia.
Mas a pandemia também incluiu experiências únicas. As ordens para ficar em casa resultaram em famílias com muito tempo em casa, sem oportunidades para os jovens se conectarem com seus colegas e outros adultos para apoio social. Embora as famílias tenham relatado valorizar o tempo adicional juntas, para os jovens, isso também significava sentir-se isolado e solitário. Ter rotinas diárias saudáveis e sono adequado foram particularmente importantes neste contexto.
Outras descobertas do estudo:
- A pandemia agravou os sentimentos de ansiedade e depressão em jovens que já haviam experimentado um ou ambos;
- Os jovens que tinham níveis elevados de estresse durante o lockdown também eram mais propensos a continuar a sentir estresse seis meses depois;
- Os adolescentes eram mais propensos a internalizar seus estresses do que as crianças mais novas;
- O tempo de tela “passivo”, que os pesquisadores definiram como rolar ou assistir a vídeos ou programas, em comparação com o uso potencialmente mais interativo da tela durante instrução remota ou bate-papo com amigos, foi associado a maior estresse.
Os pesquisadores também entrevistaram os participantes sobre métodos baratos e fáceis de aliviar a ansiedade. Nem todos os amortecedores de estresse em potencial, como atividade física e voluntariado na comunidade, mostraram efeitos demonstráveis, mas outros, como sono, rotinas estruturadas e tempo na natureza, foram relacionados a uma melhor saúde mental.
A exposição às notícias da pandemia afetou os jovens de maneira diferente. Os pesquisadores observaram, no entanto, a importância de ter conversas honestas e adequadas à idade com crianças e adolescentes sobre eventos de crise, como a pandemia, respondendo a suas perguntas e limitando a exposição a coberturas sensacionalistas.
Houve uma variação individual impressionante na forma como crianças e adolescentes responderam à pandemia. Será preciso um aprofundmento nessa variação para tentar entender as vulnerabilidades e resiliência de diferentes crianças. Também é preciso fornecer dicas úteis para pais e adolescentes.
Pode haver outras pandemias no futuro, e algumas das descobertas que foram feitas nesse estudo podem ajudar pais e adolescentes. Não há nenhum livro sobre como lidar com uma pandemia mundial, mas a ciência pode fornecer informações úteis que as pessoas podem usar agora, mesmo enquanto continuamos a coletar mais dados.
Katie McLaughlin
Harvard e ex-UW
Traduzido de: https://www.miragenews.com/youth-mental-health-during-pandemic-better-with-616754/
